A escolha é sua!
A força do pensamento crítico na construção da nossa realidade
Marcelo Tempesta, PhD
9/15/20259 min read


O perigo do piloto automático
No dia a dia, reagimos a uma infinidade de estímulos, a todo instante. Muitas dessas reações são automáticas, moldadas e condicionadas por crenças construídas ao longo do tempo, consciente ou inconscientemente, por diversas variáveis. Essas crenças (conjunto de coisas que acreditamos e não acreditamos) formam a base da nossa percepção e, quando distorcidas, geram reações igualmente distorcidas, impactando negativamente nossa realidade – em qualquer área da vida e aspectos que queira considerar.
Vamos fazer uma pausa para esclarecer um ponto crucial: quando falo de reações automáticas, refiro-me àquelas respostas instintivas, quase reflexas, que não passam pelo filtro do questionamento e avaliação de qualidade – aquelas que não se para sequer um minuto para pensar de verdade. São hábitos mentais, impulsos que acontecem num piscar de olhos, sem esforço consciente e tempo de qualidade para reflexão - é exatamente aí que mora o perigo!
Nosso cérebro gosta de economizar energia, gosta de facilidades e, muitas vezes, isso não nos traz os melhores benefícios. Dependendo de como foi este processo de condicionamento, dependendo de como foi esta programação - podemos cair nas armadilhas do ritmo hipnótico, nos aprisionar em ciclos viciosos repletos de automatismos maléficos. E tudo isso prejudica gravemente nossa realidade em qualquer área da vida que a gente queira considerar. Para entender de forma mais profunda o que é ritmo hipnótico e seus perigos, recomendo o livro “Mais Esperto que o Diabo”, de Napoleon Hill.
Afie sua mente, ajuste suas lentes
Nosso cérebro, como explica o neurocientista Daniel Kahneman em Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar, é projetado para economizar energia, recorrendo a atalhos mentais – os chamados vieses cognitivos – que nem sempre nos levam aos melhores caminhos e resultados. Esses atalhos, embora úteis em situações de sobrevivência, podem nos prender em padrões automáticos que limitam nosso potencial. Sócrates, o pai da filosofia ocidental, nos desafia a romper esse ciclo com sua máxima: "Uma vida não examinada não vale a pena ser vivida." Para Sócrates, a reflexão é a chave para escapar das armadilhas do automatismo, permitindo-nos questionar as crenças que moldam nossas reações e construir uma realidade mais consciente. Da mesma forma, Confúcio, o sábio chinês, enfatizava a importância da autorreflexão: "A verdadeira sabedoria está em reconhecer a própria ignorância." Ele nos convida a examinar continuamente nossas crenças, ajustando-as para viver com maior harmonia e propósito.
Essas reações automáticas, condicionadas por anos de programação mental, podem ser acionadas pelos mais variados estímulos e se manifestarem das mais variadas maneiras, graus de frequência e intensidade. Podem ser ocultas, silenciosas e sutis, a ponto de passarem despercebidas perante nossos próprios olhos e consciência (e também perante os olhos e consciência dos outros). Também podem ser explícitas, explosivas, absurdas e grotescas. Assim como variarem entre estes dois extremos, que geralmente é o que acontece com a maior parte de nós, seres humanos. Um excelente livro que agora me veio em mente sobre isso é “O Efeito Sombra”, de Deepak Chopra, Debbie Ford & Marianne Williamson, o qual inclusive tem documentário (mas nada como uma boa leitura).
Uma maior conscientização sobre este processo acaba nos despertando para um monte de coisas, nos faz repensar, refletir, reavaliar e ressignificar muitas coisas. Nos dá mais controle sobre nós mesmos para o cultivo de melhores comportamentos e desfrute de melhores realidades e realizações. Ou seja, nos empodera ao permitir que a gente consiga recondicionar reações automáticas que, de repente, tanto possam estar nos prejudicando.
Platão, em sua Alegoria da Caverna, nos lembra que, sem reflexão, vivemos presos às sombras de uma realidade distorcida, confundindo projeções com a verdade. A conscientização sobre esse processo, como Platão sugere, é o primeiro passo para sair da caverna e enxergar a luz da verdade. Na neurociência, Pedro Calabrez reforça essa ideia ao explicar que a plasticidade cerebral nos permite recondicionar essas reações automáticas.
Ao exercitar o pensamento crítico, reorganizamos as conexões neurais, substituindo padrões limitantes por outros que promovem crescimento e bem-estar. Carol Dweck, psicóloga e autora da teoria da mentalidade de crescimento, complementa essa visão ao afirmar que nossa capacidade de aprender e mudar depende de acreditarmos que podemos evoluir. Em Mindset, ela escreve: "A visão que você adota sobre si mesmo afeta profundamente a maneira como você conduz sua vida." Adotar uma mentalidade de crescimento nos capacita a reprogramar crenças limitantes, transformando reações automáticas em respostas conscientes.
Escolha assumir o controle
O ambiente exerce muita influência sobre todos nós, a todo momento e das mais variadas maneiras. Em níveis de significância que muitas vezes sequer imaginamos. E é isso que quero enfatizar: o poder dos efeitos que estímulos do meio podem desencadear sobre nós, nos impactando significativamente para o bem ou para o mal, e muitas vezes não temos consciência do quão impactante são essas modulações para a determinação da nossa realidade.
Um fator que vai determinar em como você será influenciado ou não, e o quanto você será influenciado, afetado positivamente ou negativamente, é o seu grau de pensamento crítico, o quão aprimorado ele está. Aprimorar o pensamento crítico faz com que a gente atinja estados cada vez mais elevados de consciência. Isto faz com que a gente compreenda e amplie a nossa visão do mundo e das coisas como um todo e, consequentemente, desenvolva um maior discernimento e poder de reflexão, melhorando assim nossas percepções.
Bob Proctor, um dos grandes pensadores do desenvolvimento pessoal, afirmava: "A escolha é sempre nossa! Nossa percepção é nossa realidade. Se mudarmos nosso ponto de vista, todo nosso mundo começa a mudar." Essa ideia ecoa a sabedoria de Epicteto, filósofo estoico, que dizia: "Não são as coisas que nos perturbam, mas nossos julgamentos sobre elas." Para Epicteto, o que importa não é o evento em si, mas a forma como o interpretamos e reagimos.
Um colega de trabalho faz um comentário que nos irrita? Não é o comentário em si que nos afeta, mas o significado que atribuímos a ele. Baruch Espinosa, outro filósofo, aprofunda essa ideia ao argumentar que a liberdade humana reside em compreender e controlar nossas emoções através da razão. Em sua Ética, ele escreve: "A mente humana tem maior poder sobre as emoções quanto mais ela conhece a si mesma." O pensamento crítico, nesse sentido, é a ferramenta que nos permite pausar, refletir e escolher respostas alinhadas com nossos objetivos, em vez de reagirmos por impulso.
Desde a cultura em que estamos inseridos até as interações diárias, tudo modula nossas emoções, decisões e comportamentos. Antonio Damasio, neurocientista que estuda a interação entre emoção e razão, destaca que nossas escolhas são profundamente influenciadas por sinais emocionais desencadeados pelo ambiente. Sem consciência desses estímulos, corremos o risco de sermos manipulados por eles, reagindo de forma automática e, muitas vezes, prejudicial.
Angela Duckworth, em sua pesquisa sobre determinação (Grit), argumenta que a resiliência para enfrentar influências externas vem da combinação de paixão e perseverança, guiadas por uma mente reflexiva. Ela escreve: "O esforço conta duas vezes: talento se transforma em habilidade, e habilidade se transforma em realização." O pensamento crítico é o que nos permite direcionar esse esforço de forma consciente, filtrando influências externas e moldando uma realidade alinhada com nossos valores. Dito isso, cabe exclusivamente a cada um a escolha de aprimorá-lo ou não.
A força do pensamento crítico – nosso maior aliado e superpoder
Qualquer mudança verdadeira começa por um ponto... E, um pensamento crítico bem aplicado, nos faz enxergar e executar melhor todos os processos envolvidos em nossas tomadas de decisões, escolhas e condutas. Ou seja, aprimorar o pensamento crítico para poder aplicá-lo bem é aperfeiçoar a prática de enxergarmos as situações nas mais variadas percepções possíveis dentro da nossa mente, o que nos permite fazer melhores avaliações e projeções dos cenários encontrados. Isso amplia a nossa visão e capacidade de tomar melhores decisões, assim como ter comportamentos mais coerentes e assertivos em relação aos nossos objetivos, sonhos, desejos – em relação à nossas buscas em geral.
Aprimorar o pensamento crítico é um caminho para alcançar estados mais elevados de consciência. Aristóteles ensinava que o conhecimento e a reflexão são essenciais para a eudaimonia – uma vida plena, vivida com propósito e virtude. Ele acreditava que a razão é o que nos distingue como humanos, permitindo-nos viver de acordo com nosso potencial mais elevado. Anthony Robbins reforça esse ponto ao dizer: "Saiba que são suas decisões, e não suas condições, que determinam seu destino."
Pessoal! Independente das nossas condições atuais (a realidade de cada um), em qualquer área da vida - sempre podemos melhorar... Por isso se faz importante parar para pensar e repensar a respeito da qualidade das decisões que estamos tomando! E aprimorar o pensamento crítico é essencial para fazermos reflexões de valor. Temos que nos conectar cada vez mais com esta busca para nos libertarmos de limitações orquestradas pela nossa mente! Não importa a situação atual – pessoal, profissional, financeira, emocional – sempre há espaço para melhorar, desde que tomemos decisões mais conscientes, informadas e com maior intencionalidade. O pensamento crítico é a ferramenta que nos permite fazer isso, conectando-nos com a busca por uma vida mais plena.
Ouse pensar de verdade e exercer seu verdadeiro livre-arbítrio
Søren Kierkegaard, filósofo existencialista, adiciona uma camada de profundidade ao enfatizar a importância das escolhas para a autenticidade. Ele dizia: "A angústia é a vertigem da liberdade." Para Kierkegaard, cada decisão é um ato de liberdade, mas também de responsabilidade, pois define quem nos tornamos.
Adam Grant, em seu livro “Originais”, nos lembra que a inovação começa com a coragem de questionar suposições e explorar novas possibilidades. Ele argumenta que o pensamento crítico não é apenas uma habilidade analítica, mas um ato criativo que nos permite reimaginar nossa realidade.
Napoleon Hill, em Pense e Enriqueça, enfatiza que o sucesso começa com um desejo ardente e uma mente aberta para aprender e se adaptar. Hill acreditava que a mente é a força criativa mais poderosa, capaz de transformar ideias em resultados concretos quando guiada por reflexão e propósito.
O pensamento crítico, nesse sentido, é a ponte entre o desejo e a realização, entre a realidade atual e a realidade desejada.
Paul e Elder, há décadas estudiosos do pensamento crítico e autoridades no assunto, alertam que a maioria das pessoas vive como pensadores irreflexivos, presos em padrões automáticos que limitam seu potencial. Eles descrevem esse estado como o nível mais baixo de pensamento crítico, onde as pessoas aceitam crenças sem questioná-las, reagindo ao mundo sem reflexão.
Sêneca, com sua sabedoria estoica, nos alerta: "Você tem poder sobre sua mente, não sobre os eventos externos. Perceba isso, e encontrará força." A força de que Sêneca fala vem do cultivo do pensamento crítico, que nos liberta das limitações impostas por crenças automáticas e nos permite criar realidades mais ricas e significativas. Marco Aurélio complementa: "A qualidade da nossa vida é o reflexo dos nossos pensamentos." Cada um de nós carrega um repertório único de crenças, pensamentos e sentimentos que define quem somos hoje – e quem podemos nos tornar amanhã.
O espaço entre o estímulo e a resposta
É aqui que a mudança começa! Parafraseando o psiquiatra e sobrevivente do Holocausto, Viktor Frankl: “Entre o estímulo e a resposta, existe um espaço. Nesse espaço está o nosso poder de escolher nossa resposta. E em nossa resposta está nosso crescimento e nossa liberdade."
Esse espaço é onde o pensamento crítico floresce. É o momento de pausa que nos permite questionar: "Por que estou reagindo assim? Essa crença, este pensamento, este comportamento - ainda me serve?".
Os filósofos estoicos já dominavam essa arte. Epicteto dizia que "o que perturba as pessoas não são as coisas em si, mas seus julgamentos sobre as coisas". Sêneca complementava, afirmando que "sofremos mais na imaginação do que na realidade". Eles nos ensinam a construir um "espaço mental de maior efetividade", um lugar de “razão” que nos protege das tempestades externas. Em outras palavras – uma melhor gestão emocional e comportamental.
Para finalizar, reforço: Pensamento crítico é nossa forma de pensar e criar realidades. São as lentes com que enxergamos o mundo. São os critérios usados para tirar conclusões, dar significados e tomar decisões. É a raiz de nossas escolhas, determinando assim nossos padrões de comportamento. O pensamento crítico é um repertório único que cada pessoa tem para se expressar perante a vida. É o pensamento crítico que nos faz ser quem somos: A nossa versão de ontem... O estado em que cada um se encontra hoje... A versão que cada um deseja se tornar... Ou seja, essencial para a nossa evolução.
Cultive o desejo por esta busca, pois sem busca não há encontro. Como dizia Confúcio: "O homem que move montanhas começa carregando pequenas pedras." Cada reflexão, cada pausa para questionar, é uma pequena pedra que nos aproxima de uma vida mais plena.
A escolha de cultivar o pensamento crítico é a escolha de romper com o automatismo, de questionar o confortável e de buscar uma versão mais autêntica e realizada de nós mesmos. Que tal, então, acender esta chama e deixar que ela ilumine sua jornada? Boas reflexões!
Marcelo Tempesta, PhD.